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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Todo dia deve ser da Consciência Negra


Um africano nascido no Brasil. Foi a partir dessa constatação que o arte-educador e coordenador de projetos culturais Don Perna – como faz questão de ser identificado – deu início à sua trajetória enquanto membro do movimento negro do Pará. Indignado com os desafios que ainda afligem a comunidade negra em todo o mundo, Don decidiu criar voz. “A gente que nasce na periferia, que tem uma pai alcoólatra e que a mãe precisa trabalhar o dia inteiro é educado pela rua”, lembra. “Assim como eu vi muita coisa errada, também descobri que minha mãe não era morena e, sim, negra. Esse foi o estímulo que tive para descobrir quem sou e a minha busca por identidade”.
A partir do movimento, hoje, interligado, ele vê avanços quanto à garantia de direitos. “Existe um sistema de resistência global que identifica que os mesmos desafios são enfrentados por todo negro em qualquer lugar do mundo. O movimento tem crescido e deixado de ser isolado”, acredita. “As cotas são significativas e importantes para o movimento. É uma medida paliativa, mas que consegue pautar nossos problemas e fazer refletir sobre as dificuldades que enfrentamos”.
Apesar dos avanços, porém, para ele, a sociedade está longe de conquistar a igualdade. “O movimento ainda não chegou onde se quer.
Ainda estamos longe de não termos mais que discutir o racismo no Brasil. Houve um grande sequestro (quando os negros foram trazidos da África para o Brasil) e ele tem sequelas que duram até hoje”, destaca. “O mundo está doente e o racismo faz parte dessa doença”.
Coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileitos (Neab), a professora Helena Rocha também não nega que a Lei de Cotas – publicada pelo Governo Federal no Diário Oficial da União em outubro deste ano – é o reconhecimento, por parte do Brasil, de sua dívida com a população negra decorrente do longo processo de escravidão que o país passou. Ainda assim, ela acredita que, para além do acesso, outras garantias são necessárias para diminuir as graves consequências sociais que a escravidão causou à parcela da população, que em determinado momento no Império, foi impedida por lei de sentar nos bancos escolares. “O acesso à educação superior já está garantido através da Lei de Cotas”, destaca. “O grande problema está na permanência desse aluno para efetivar seu sucesso, o que se daria através de bolsas de permanência em estudo pelo atual governo”.
Para ela, quando o assunto é educação, os desafios também precisam ultrapassar as barreiras do ensino superior. “O maior deles [desafio] é estar em uma escola em que o aluno não vê suas raízes africanas ou quando as vê na aula e nos livros didáticos ela está encharcada de aspectos negativos da África como fome, miséria, Aids, guerras. Por isso é necessário investir na formação inicial e continuada dos professores que atuam na educação Básica”, acredita. “Quanto à educação básica o grande engate é o ensino médio e que, como é obrigatória a oferta e o acesso através da LDB 9394/1996, as políticas deveriam estar voltadas para a permanência desse aluno e seu sucesso escolar”.

MUDANÇAS
Para a antropóloga e professora de diversidade étnico racial Marilu Campelo, muitas são as mudanças de pensamento que precisam acontecer para que se construa uma sociedade mais igual para as pessoas negras. “A sociedade brasileira é extremamente racista. Por isso, o significado maior é o da mudança de pensamento”, afirma. “É necessário que haja uma mudança estrutural. É preciso reconhecer que essa população faz parte da história civilizatória do nosso país”.
De acordo com a professora, algumas mudanças são mais urgentes como a necessidade de entendimento que a população negra foi parte fundamental na construção da sociedade atual. “Muitos de nossos modos de viver e falar vem deles (negros)”, destaca. “As cotas são extremamente relevantes. Em uma sociedade estruturalmente preconceituosa, é preciso uma ação estruturativa para acelerar o processo”.
(Diário do Pará)

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