Do blog do John Cutrim
Sob o título ‘Sono dos justos’,
o jornalista Cláudio Humberto alertou hoje em sua coluna que há três
anos dorme no Supremo o processo da empresa Usimar, denunciado em 2004
pelo Ministério Público Federal.
“Além
da governadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e marido, o caso envolve
também Fábio Vaz de Lima, casado com a senadora Marina Silva (PV-AC)”,
diz o jornalista.
O
‘caso Usimar’ – um megaescândalo do segundo mandato de Roseana Sarney
Murad (1999-2002) – deu entrada na 6ª Vara da Justiça Federal do
Maranhão há três anos. O processo, que tem Roseana e seu marido Jorge
Francisco Murad Júnior como dois dos 40 réus, é resultado de
investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal
(MPF) sobre o desvio de R$ 44,2 milhões da extinta Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) para a construção, em São Luís, de
uma fábrica de autopeças que nunca saiu do papel.
As
investigações começaram em 2001 e duraram 2 anos. Além do “caso
Usimar”, do Maranhão, foram apuradas fraudes em projetos da Sudam em
outros cinco estados – Tocantins, Mato Grosso, Pará, Amazonas e Amapá.
O
calhamaço resultante dos trabalhos investigativos sobre o “caso
Usimar” tem 3.097 páginas, totalizando 11 volumes e 19 apensos (anexos
processuais). O processo, de número 200137000080856, estava no Supremo
Tribunal Federal (STF) desde 13 de abril de 2004, mas foi devolvido à
sua origem – a Justiça Federal do Maranhão – por decisão da ministra
Cármen Lúcia Antunes Rocha, do Supremo, em 23 de junho de 2008. A juíza
acatou parecer do então procurador-geral da República, José Paulo
Sepúlveda Pertence, de que o STF não teria competência para julgar o
processo, o qual chegou às mãos do juiz titular da 6ª Vara Federal,
Nelson Loureiro dos Santos, em 9 de setembro de 2008.
A Usimar
Usina
Siderúrgica do Maranhão Componentes Automotivos Ltda. – foi um projeto
faraônico com custo de 1 bilhão, 380 milhões, 54 mil e 840 reais. Foi
idealizado no final dos anos 1990 pelo governo Roseana Sarney, com a
finalidade teórica de produzir autopeças numa fábrica que deveria ser
instalada no Distrito Industrial, em São Luís.
A
liberação de R$ 690 milhões para os investimentos iniciais do projeto
(outros R$ 690 milhões viriam de um sócio privado, o paranaense Teodoro
Hübner Filho, dono da fábrica de autopeças New Hübner, em Curitiba)
foi aprovada numa reunião do Condel (Conselho Deliberativo) da Sudam,
em São Luís, em 14 de dezembro de 1999, presidida por Roseana Sarney
(então no PFL, hoje no PMDB). A reunião aconteceu a toque de caixa,
pois vinte dias antes, Roseana havia pedido ao então ministro da
Integração Nacional, o potiguar Fernando Luiz Gonçalves Bezerra, que
incluísse o projeto na pauta da reunião do conselho. O marido da
governadora, Jorge Murad, na época supergerente de Planejamento do
governo estadual, defendeu com veemência a liberação das verbas.
Murad
chegou a tentar convencer o único representante do conselho que era
contrário ao projeto Usimar – José Barroso Tostes Neto, superintendente
da Receita Federal no Pará e representante do Ministério da Fazenda no
Condel – a mudar seu voto. Mas Tostes Neto manteve sua posição,
argumentando que o processo da Usimar estava cheio de irregularidades,
como a falta de comprovação de investimentos e da capacidade financeira
dos donos de implantar uma indústria de R$ 1,38 bilhão em dois anos.
Foi voto vencido. O projeto foi aprovado por dezenove votos a favor e
um contra, o de Tostes Neto.
A
Sudam teria liberado, meses depois, R$ 44,2 milhões, em duas parcelas
de R$ 22,1. Técnicos da Sudam não conseguiram comprovar a contrapartida
da Usimar. Segundo o MPF, menos de R$ 5 milhões foram efetivamente
gastos no projeto.
Roseana
Sarney sempre negou seu envolvimento na liberação e nas fraudes que
resultaram no desvio das dezenas de milhões da Sudam. Em entrevistas à
imprensa, ela disse que apenas referendou uma decisão do Condel e que
toda a responsabilidade cabia aos técnicos da Sudam.
‘Propinoduto’
Para
o Ministério Público Federal, no entanto, o projeto Usimar foi criado
exclusivamente para fraudar a Sudam, e a fraude teve participação ativa
de Roseana Sarney e Jorge Murad. A investigação sobre o “caso Usimar”
evitou que o restante dos R$ 690 milhões liberados pelo Conselho
Deliberativo da Sudam fosse parar nos bolsos dos “cabeças” do esquema
criminoso.
O
“chefão” em nível nacional do “esquema Sudam”, segundo o MPF, seria o
ex-senador Jader Fontenelle Barbalho (PMDB-PA), que dominava
politicamente a entidade. Ele teria recebido 20% de “propina” de todos
os valores liberados. Somente no projeto Usimar, Jader teria ganho R$
8,8 milhões dos recursos que saíram da Sudam (R$ 44,2 milhões).
Em
2001, após denúncias sobre desvios na Sudam, Jader Barbalho renunciou à
presidência do Senado e, mais tarde, ao seu mandato, para evitar ser
cassado. Em 2002, voltou à vida pública como o candidato mais votado à
Câmara Federal em seu estado. Em fevereiro do mesmo ano em que foi
eleito havia sido preso pela Polícia Federal em Belém, a pedido da
Justiça Federal de Tocantins. O ex-superintendente da Sudam, José
Arthur Guedes Tourinho, também foi preso na mesma operação.
Usimar e Lunus
No
bojo das investigações do “caso Usimar”, a Polícia Federal cumpriu, em
1º de março de 2002, um mandato judicial de busca e apreensão na
empresa Lunus, de Roseana Sarney e Jorge Murad, localizada no bairro
Renascença, em São Luís. Além de R$ 1,34 milhão em dinheiro vivo, cuja
origem suspeita jamais foi devidamente explicada pelo casal, a PF
encontrou na Lunus documentos que ligavam Murad ao projeto Usimar,
embora ele sempre tenha rejeitado a acusação de ter pressionado
conselheiros da extinta Sudam a liberar recursos para o projeto.
Na
sede da Lunus, a polícia achou uma carta endereçada a Murad com
tópicos como “Reunião do Condel”, “Usimar – Pendências” e “Resumo do
Projeto”. A PF encontrou também um documento enviado pela Sudam, via
fax, a Jorge Murad: o ofício DAI 695/99, de setembro de 1999, assinado
pelo então superintendente da Sudam, José Arthur Guedes Tourinho, e por
um funcionário do órgão, Honorato Luís Lima Cosenza Nogueira. O ofício
foi endereçado à Usimar quando a empresa tinha apenas um mês de vida.
Durante
as investigações, o Ministério Público e a PF descobriram que as
comissões cobradas por Jader Barbalho foram trocadas por dólares, na
casa de câmbio Cruzeiro, de propriedade do doleiro José Samuel
Benzecry, localizada em Belém.
As
fraudes nos projetos da Sudam – que sangraram perto de R$ 1,5 bilhão
dos cofres públicos – levaram à extinção do órgão, em março de 2001
(depois de quase 35 anos de existência), sendo criada em seu lugar a
Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA).
O
terreno onde deveria ser instalado o faraônico projeto Usimar fica na
BR-135, nas proximidades da Vila Maranhão. O local se assemelha, hoje, a
um cemitério. E não é força de expressão. As duas dezenas de pilastras
de concreto que restaram do projeto – que não avançou além do canteiro
de obras – têm formato de cruzes, cravadas na mata densa. Parecem
lembrar os R$ 44,2 milhões que foram enterrados ali.
OS RÉUS DO ‘CASO USIMAR’
1.
Roseana Sarney Murad (governadora do Maranhão na época do escândalo
Usimar, presidiu o Conselho Deliberativo (Condel) da Sudam que liberou
recursos para o projeto)
2.
Jorge Francisco Murad Júnior (marido de Roseana, então gerente de
Planejamento, pressionou membros do Condel para que liberassem os
recursos à Usimar)
3.
José Arthur Guedes Tourinho (superintendente da Sudam de 1996 a
outubro de 1999, indicação de Jader Barbalho; está envolvido em quase
todas as fraudes da Sudam)
4.
Maurício Benedito Barreira Vasconcelos (também ligado a Jader
Barbalho, assumiu a superintendência da Sudam com a saída de Tourinho,
em outubro de 1999; comandava o órgão quando saíram os recursos para o
projeto Usimar; foi ministro interino de Integração Nacional, de
17.07.2000 a 4.12.2000, gestão FHC)
5.
Aldenor Cunha Rebouças (dono da AC Rebouças, empresa de consultoria
que prestou serviços à Usimar, sendo responsável pelo projeto técnico
da empresa)
6.
Fábio Vaz de Lima (técnico agrícola, marido de Marina Silva, hoje
pré-candidata à Presidência da República; não se sabe seu papel no
“caso Usimar”)
7. Dante Martins de Oliveira (falecido, ex-governador do Mato Grosso, tinha assento no Conselho Deliberativo da Sudam)
8.
Alexandre Firmino de Melo Filho (publicitário, marido da ex-secretária
da Receita Federal Lina Vieira, era ministro interino da Integração
Nacional na época em que os recursos para a Usimar foram liberados –
ocupou o cargo de 20.8.1999 a 17.7.2000, gestão FHC)
9.
Honorato Luís Lima Cosenza Nogueira (exercia função burocrática na
Sudam; segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
10.
Alexandre Rizzotto Falcão (secretário estadual de Indústria e Comércio
na época da liberação do dinheiro para a Usimar; segundo o MPF,
participou do esquema de desvio dos recursos)
11.
Valmor Felipetto (diretor da Hübner, empresa que era a sócia privada
do projeto Usimar; segundo o MPF, participou do desvio dos recursos)
12.
Carlos Fernandes Xavier (preside há mais de 20 anos a Federação de
Agricultura e Pecuária do Pará – Faepa; não se sabe seu papel no “caso
Usimar”)
13.
Madson Antônio Brandão da Costa (exercia função burocrática na Sudam;
segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
14.
Admilson Fernando de Oliveira Monteiro (exercia função burocrática na
Sudam; segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
15. Maria José Corrêa Alves (exercia função burocrática na Sudam; segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
16.
Antonio Alves de Oliveira Filho (exercia função burocrática na Sudam;
segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
17.
Mário Jorge de Macedo Bringel (exercia função burocrática na Sudam;
segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
18.
Márcia Pastor da Silva Pinheiro (exercia função burocrática na Sudam;
segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
19.
Antonio dos Santos Ferreira Neto (exercia função burocrática na Sudam;
segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
20.
Raimundo Rogério Dias Magalhães (exercia função burocrática na Sudam;
segundo o MPF, contribuiu para as fraudes no “caso Usimar”)
21.
Isper Abrahim Lima (amazonense, ligado ao ex-governador Eduardo Braga
(PMDB), que deixou o cargo em abril para disputar o Senado; atualmente,
é secretário da Fazenda do Amazonas; em 2004, foi denunciado por
envolvimento em um esquema de corrupção e fraudes e licitações públicas
no Amazonas; não se sabe seu papel no “caso Usimar”)
22.
Francisco Sérgio Belich de Souza Leão (paraense, ligado aos
ex-governadores Almir José de Oliveira Gabriel (duas gestões, 1995 a
2002) e Simão Robison Oliveira Jatene (2003-2006), ambos do PSDB; foi
secretário de Produção no governo de Jatene; em 2003, foi denunciado,
junto a Jatene, ao STJ por corrupção passiva; teria participado de um
esquema de pagamento de “propinas” da Cervejaria Paraense S/A (Cerpasa)
ao governo tucano em troca de benefícios fiscais; não se sabe seu
papel no “caso Usimar”)
23.
Íris Pedro de Oliveira (foi presidente da Fundação Nacional do Índio
(Funai) de setembro de 1988 a março de 1990; não se sabe seu papel no
“caso Usimar”)
24.
Flora Valladares Coelho (ex-presidente do Banco da Amazônia e
ex-secretária de Gestão Administrativa do governo do Acre na 2ª gestão
de Jorge Viana – 2003-2006; não se sabe seu papel no “caso Usimar”)
OUTROS ACUSADOS
25. Marivaldo Nazareno da Silva
26. Carlos Nayro de Azevedo Coelho
27. Artur Nunes de Oliveira Filho
28. Cristovam Wandeley Picanço Diniz
29. Rui da Justa Feijão
30. Luís Hiroshi Sakamoto
31. Antonio Felipe Sanches da Costa ou Antonio Felipe Sanchez Costa
32. Nadin Ferreira da Costa
33. Fernando José Marroni de Abreu
34. Janete Oliveira Bordalo
35. Maria Aldanisa Canto dos Santos
36. Ana Cristina Costa de Souza
37. Raimundo Marques Neto
38. Francisco Doriney Baptista de Souza
39. Evaldo Guilherme Martins César
40. Paulo Ivan Alberti
41. Clineu César Coelho Filho
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